quarta-feira, setembro 28, 2005

A máquina neo-antropofágica de João Falcão


Parece que a família Falcão quer dominar o mundo. Em “A Máquina”, o diretor João Falcão adaptou para o cinema a peça de sua esposa Adriana Falcão (que co-roteirizou o filme com ele) e reservou o papel do protagonista Antônio para seu filho, Gustavo Falcão. Pra completar, o elenco conta também com Karina Falcão, que deve ser filha do casal (visto que tem o mesmo pré-nome da principal personagem feminina).

Mas tudo isso é besteira. Foi só pra começar o post de forma diferente. “A Máquina” tem uma direção interessante, um roteiro legal e Gustavo não faz feio no papel do cabra cuja história daria um cordel e tanto, tipo aqueles mais vendidos na feira de Caruaru.

Antônio controla o tempo e ‘rebobina’ momentos agradáveis de sua vida para vivê-los novamente. Como os que ele passa com Karina (Mariana Ximenes), menina sonhadora e que é seu objeto de desejo. Só que o desejo de Karina é outro: deixar o vilarejo em que vive para ser “artista” e explorar o mundo. Antônio então decide trazer o mundo até ela para mantê-la ao seu lado.

A trama é quase um ‘De volta para o futuro’ nordestino. Além dos toques de ‘realismo fantástico’, o clima poético predomina. Grande parte do longa foi filmada em estúdio, num esquema meio ‘Hoje é dia de Maria’. A fotografia do Walter Carvalho e a edição característica do ‘núcleo Guel Arraes’ fazem o espectador esquecer que toda aquela cidadezinha é de papelão e eliminam a sensação de se estar assistindo teatro filmado.

Minha principal crítica ao filme é a mania que se tem de querer retratar o povo nordestino como fazem as novelas da Globo: com sotaque forçado (by Glorinha Bettenmuller), uso de palavras e expressões ‘exóticas’ no intuito de fazer rir e elenco cuja estampa não convence na pele de habitantes de uma cidade perdida no meio do sertão pernambucano (Mariana Ximenes é lindíssima e está muito bem no papel, mas não tem cara de nordestina nem aqui nem no Projac!). Isso me lembra o movimento antropofágico, em nova versão. Agora é o povo daqui do ‘sulmaravilha’ que devora os mitos, tradições, maneirismos e características dessa gente arretada lá de riba, para transformá-los em uma linguagem audiovisual idealizada, mais palatável pros consumidores de cultura do sudeste.

Outro ponto a ser discutido é a similaridade da obra em questão com o ‘estilo Jorge Furtado de fazer cinema’. O monólogo inicial, através do qual Paulo Autran (excelente!) começa a contar a história de Antônio, serve como exemplo. Tem aquele didatismo que o diretor-roteirista gaúcho repete desde “Ilha das Flores”. A sombra do ´núcleo Guel Arraes’ também é visível no jeitinho totalmente ‘Lisbela’ da mocinha e em diálogos cíclicos, que vão e voltam jogando com a mesma idéia (‘Auto da Compadecida’, ‘Lisbela e o Prisioneiro’, etc).

Liga não, isso é só cisma da minha parte. Nada disso que escrevi acima tira os méritos do filme e a beleza da história.

segunda-feira, setembro 26, 2005

A ‘C.O.N.T.R.O.L.E.’ perde seu principal agente


Este blog não nasceu com vocação para obituário, mas ultimamente tem morrido gente que só não morre mesmo na nossa memória afetiva.

Dessa vez foi Don Adams, aos 82 anos. A série que o tornou famoso, “Agente 86” (“Get Smart”) é dos anos 60 mas passou muito nos anos 80. Ele era o Maxwell Smart, o cara que, muito antes do celular, tinha um sapatofone que toda a galera do colégio queria ter.

86 tinha uma hilária cara de pateta (meio Inspetor Closeau) e fazia muita merda em nome da agência secreta C.O.N.T.R.O.L.E., sempre acompanhado da Agente 99. E a vinheta de abertura, com as portas se abrindo enquanto ele caminhava até a cabine telefônica? Não dá pra esquecer.

Mas e agora... quem irá nos defender da K.A.O.S.?

Almas em rota de colisão


É raro ver um título – no caso, um subtítulo – em português, dado a um filme estrangeiro, que seja adequado e tenha a ver com a temática da obra. O “No Limite” que acompanha o título original “Crash”, é perfeito. Todos os personagens estão no limite de cometer uma besteira. A tragédia é, muitas vezes, iminente, mas raramente se concretiza. Apesar da tensão, sempre presente, todo mundo parece querer a redenção qualquer custo.

“Crash” fala de conflitos raciais, mas num sentido bem amplo. Seria muito bom se as pessoas desenvolvessem uma espécie de visão de raio-x que as permitisse olhar as outras além de suas ‘cascas’. É esse olhar que o diretor e roteirista Paul Higgis (que escreveu “Menina de Ouro”) sugere.

A narrativa costura vários personagens (dois negros ladrões de carros, uma família persa, um chaveiro ‘chicano’, um policial racista e seu parceiro ético, um diretor de TV, uma dondoca esnobe e seu marido promotor, etc) e vai tecendo uma colcha de situações-padrão que identificam os sentimentos racistas e segregadores de forma meio didática. Você até pode pensar que o filme vai levantar a bandeirinha do maniqueísmo. Mas logo essa galeria de etnias, comuns em uma cidade como Los Angeles, mostra que a cor, a raça, a procedência e a classe não servem como credencias da alma.

O roteiro usa a metáfora da colisão de automóveis para lembrar o quanto é fácil se ‘chocar’ com o próximo numa sociedade em que todo mundo está prestes a explodir. O elenco está excepcional, principalmente os desconhecidos. Don Cheadle é um dos grandes atores da atualidade, na minha humilde opinião. E ainda tem Matt Dillon, Tandie Newton, Ryan Phillipe, o rapper Ludacris (ótimo!), Sandra Bullock e Brendan Fraser. A trilha minimalista de Mark Ishan está em ponto de bala.

“Crash” é surpreendente, emocionante e otimista, assim como o filme que encabeça minha listinha ‘top ten’: "Magnólia". Os dois são bem diferentes, mas têm muitos pontos em comum. A escalada dos conflitos; a sensação de que ‘os personagens aprenderam uma lição com o que aconteceu’; a forma como as histórias entram em interseção; e o principal momento ‘magnólico’: o videoclip, no qual uma música de fazer qualquer um chorar (em Magnólia foi ‘Wise Up’ de Aimee Mann; aqui é ‘In The Deep’ de Bird York) toca inteira, coberta por imagens tocantes dos personagens em momento de profunda reflexão.

Depois dessa foi batata. Quando os créditos começaram a rolar, percebi que tinha acabado de ver um dos melhores filmes do ano.

Wallace & Gromit


Comecei meu primeiro dia de Festival com o pé direito. Levantei cedo no sabadão e corri para a sessão de 10h no Odeon. “Wallace & Gromit – A Batalha dos Vegetais”, animação em stop-motion do Nick Park, o mesmo de A Fuga das Galinhas. Gosto muito de animação, mas, particularmente, tenho um carinho especial pela técnica dos bonequinhos que se movimentam lenta e precisamente, quadro-a-quadro. Numa época em que a computação gráfica tem poderes ilimitados e está cada vez mais acessível, a perseverança e o talento dos stop-motioners ainda impressiona. Além do mais, um dos meus sonhos de adolescente sempre foi produzir um longa-metragem caseiro estrelado pela minha coleção de Playmobil.

A sessão estava repleta de crianças. Alguns com os pais, mas a maioria de escolas e instituições. O que obrigou a uma das organizadoras fazer uma simpática preleção antes do filme: “Aqui não é televisão. Tá vendo aquela tela? A imagem vai ser projetada ali, gigante! As luzes também vão se apagar. Não é pra ninguém ficar com medo, tá?”. Isso não impediu que uma ou duas crianças chorassem quando a sala ficou escura.

O filme foi ótimo. O inventor Wallace e Gromit, seu cão pantomímico, cuidam da segurança dos legumes e vegetais gigantes que os habitantes de sua cidade cultivam para um concurso anual. Mas uma praga misteriosa ameaça a realização da festa ao provocar estragos nas hortas dos competidores. O filme homenageia aquelas produções clássicas de monstros, tipo Frankenstein e Lobisomem, e é repleto do humor inglês que eu tanto admiro. Pra ficar melhor, ainda encontrei após a sessão uma amiga que não via há séculos!

Seguimos então para o Estação Paissandu, a fim de garantir os ingressos para a sessão das 14h de “Crash – No Limite”. Mas, antes, uma parada obrigatória para devorar o cláááááááássico arroz com lentilhas, cebolas fritas e 2 kaftas da Rotisseria Sírio-Libaneza (com ‘z’ mesmo), o melhor pé-sujo árabe do Rio.

Mais tarde eu posto os comentários sobre o filme. Preciso sair agora mesmo para ver “A Máquina” no Odeon. Até logo mais.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Mundinho Animal

Essa é do Arnaldo Branco, um cara que tem um tremendo de um Mau Humor e colabora com o Tonto.


Clique na tira para visualizá-la em formato maior.

Copyright: Arnaldo Branco - www.gardenal.org/mauhumor

Oba!


Hoje, finalmente, começa o Festival do Rio 2005. Pela primeira vez vou poder me dedicar integralmente às modalidades do evento (estar desempregado tem suas vantagens), como o revezamento em salas de exibição, a corrida com obstáculos (no trânsito, indo de uma sessão para outra), o arremesso de pipoca, a fila de 100m rasos, o aplauso sincronizado e a principal delas: a maratona pelo ingresso.

Estive no primeiro dia de funcionamento da central de venda de ingressos, no Espaço Unibanco. Estava lotado, porém organizado. Tirei a senha nº517 e o quadro eletrônico indicava que o sortudo da vez era o de nº122. Saí de lá com as mãos abanando, lógico. O jeito agora é colocar o kickboxing em dia pra sair no tapa com a horda de nerds que vai tomar de assalto as sessões mais concorridas.

Na minha listinha priorizei 16 filmes. Esse número pode aumentar ou diminuir no decorrer do Festival. O importante é que já fiz meu roteiro, detalhando a logística de deslocamento, rotas de fuga, planos ‘B’, táticas de guerrilha e estratégias de sobrevivência.

Infelizmente tive que descartar no meu planejamento alguns filmes interessantes. O que eu mais queria ver, “Irmãos Grimm”, do Terry Gilliam, vai passar em sessão única à meia-noite. Aí não dá. Não vou correr o risco de dormir num dos filmes mais aguardados do ano (pelo menos para mim). Porque comigo é assim: passou das 23h, EU DURMO! Não riam, é involuntário.

Meu foco é na Premiére Brasil, na mostra Panorama, Midnight Movies e nos documentários, que eu adoro. Pretendo comentar por aqui tudo o que acontecer nesta jornada. Aguardem.

P.S.: Essa foto aí em cima é do Festival de 2002. Foi a única que eu achei para ilustrar este post.

quarta-feira, setembro 21, 2005

As aventuras de um suburbano na zoropa


Em 2001, Leonardo realizou um sonho. Aliás, ‘O’ sonho: reuniu sua banda de H.C. e embarcou para a Europa, onde passou 80 dias rodando, tocando e seguindo os preceitos punk do “faça você mesmo”.

A figura em questão é mais conhecida como Leonardo Panço, que além de ser CEO de selo independente é jornalista de hábitos noturnos, zineiro pré-histórico, cronista de ônibus, guitarrista autodidata, lenda viva do underground carioca e dono da banda Jason. E agora ‘resolveu que é escritor’, como está na orelha do seu livro “Jason 2001: uma odisséia na Europa”.

Imagine um sujeito que sai da Vila da Penha, encara trocentas horas de vôo, completamente apertado na terceira classe de um avião, e desembarca em Zurique com instrumentos, pouco dinheiro, muita disposição e dezenas de shows pré-agendados via internet em 12 países do continente europeu. Essa é a premissa da aventura, contada em forma de diário.

Uma odisséia na Europa” é um legítimo road-book. Um Easy Rider numa van velha, lotada de barbados sem grana e sem banho. Apesar disso não cheirar muito bem à primeira vista, Panço transforma o ‘programa de índio’ num relato divertido e ilustrado, com momentos bem engraçados e alguns meio tensos. Como os dias em que o desmiolado vocalista Heron quase morreu afogado num rio ultragelado da Eslovênia e um ataque dos temidos skinheads era esperado durante o show num squat.

No final das contas, a viagem foi uma corrida contra o tempo e a favor do velho sonho rock’n’roll, com muitas descobertas, personagens bizarros (e reais), línguas incompreensíveis e quase nenhum horário na agenda para atividades turísticas. Tudo foi escrito meio às pressas, nos intervalos dos shows, no balanço da van. Bem cru, bem legítimo e bem punk. E de quebra ainda tem as tiradas impagáveis do Panço, com seu ‘mal humor’ típico.

Compre aqui e não se arrependa.

Telemarketing passivo


- Bom dia senhor, meu nome é fulano de tal, no que posso estar ajudando?
- Bom dia. Eu quero cancelar a minha conta corrente.
- Mas o senhor tem ciência de que ao estar cancelando sua conta estará perdendo todas as vantagens que o Banco Sicrano está oferecendo, como: (lista interminável de pseudo-vantagens cujo objetivo é fazer com que você fique cada vez mais endividado e o banqueiro com o rabo mais cheio de grana).
- Sim, eu sei meu amigo. Mesmo assim quero cancelar.
- Para demonstrar que o banco Sicrano se orgulha em tê-lo como cliente, está oferecendo isenção de taxa por um ano e limite dobrado no cheque especial.
- Eu agradeço, mas a decisão já foi tomada. Por favor, cancele minha conta.
- Mas é um ano inteirinho sem pagar taxa de manutenção da conta e um limite...
- Eu escutei amigão, não sou surdo. Mas não preciso mais dessa conta e quero acabar com ela. Agora!
- Estou vendo aqui no sistema que você tem direito a um cartão Visa internacional...
- Perai, perai... Isto é uma gravação ou seu fone de ouvido está entupido? Cancela essa merda logo que eu já to perdendo a minha paciência.
- Tudo bem senhor, mas não tem nada que o Banco Sicrano possa estar fazendo para mantê-lo como cliente?
- Um boquete.
- ... ???
- Bola-gato, blowjob, mamadinha. Me paga um boquete e a conta não vai mais pra vala.
- Senhor, estaremos efetuando o cancelamento de sua conta imediatamente. O Banco Sicrano agradece, tenha um bom dia.


A história é verídica mas o final é pura ficção. Porque apesar de odiar telemarketing, eu honro a educação que minha mãe me deu.

terça-feira, setembro 20, 2005

Chamem o ladrão

Sumiu uma grana preta do cofre da P.F. carioca. Mais uma pauta quentíssima para os caras do Casseta. Bom pra eles, pois se ainda existe alguma credibilidade nessas corporações (inclua-se aí a Militar e a Civil), ela deve estar perdida entre as almofadas do sofá. Ô gentinha pra fazer merda!

Se você já teve carro roubado, ou conhece alguém que teve, sabe: pior do que não ver jamais a cara do seu fom-fom novamente é descobrir que a polícia o recuperou pra você. Misteriosamente depenado, como é de praxe. Eles atuam como o xepeiro da feira, se fartando com o que o ladrão perdeu ou deixou pra trás.

É uma pena, mas nem a porcentagem superior da banda limpa consegue apagar as cagadas que essa minoria insiste em cometer. Afinal, não adianta nada colocar band-aid se a ferida já gangrenou.

segunda-feira, setembro 19, 2005

A polícia que o Rio criou

Obrigatório este artigo de Xico Vargas, colunista do site No Mínimo.

"O carioca acha engraçado subornar a polícia e se espanta que ela não entre no escurinho da favela para procurar carro roubado. Na nova polícia, achacar traficante ou sentar praça em milícias rende mais que o salário e não arrisca o pescoço."

Leia e não continue fazendo vista-grossa para o grande problema do Rio de Janeiro: a falta de culhão de políticos, ‘ autoridades’ e cidadãos.

Toda cura para todo mal


Sexta fui ao Circo Voador ver a querida banda Pato Fu. O primeiro show deles que vi foi lá mesmo, em 1994. Desse dia, lembro com carinho. Além de ter sido a primeira vez que vi os Patos no palco, foi quando presenciei também uma das últimas apresentações de Chico Science. Inesquecível.

De volta ao presente: quem abriu foram os novatos da Som da Rua. Os moleques mandam bem e prometem fazer sucesso, apesar de não mostrarem nenhuma novidade. Achei o som deles uma mistura dos discos 1 e 2 do Los Hermanos. Tinha até uma letra que começava com as palavras “Olha só...”, característica marcante do método de composição losermânico (sim, eles têm um padrão que identifiquei e prometo decifrar em breve neste blog). A Gláucia observou que eles falam muito em ‘janela’, ‘porta’, ‘quarto’ (tocaram até um belo cover de “Meu mundo e nada mais” do Guilherme Arantes!). Típico de banda de apartamento. Pelo menos não são mais um CPM 22 da vida.

Pouco depois entra no palco toda a ala masculina do Pato Fu e mandam ver com “Estudar pra quê?”, que é bem ‘porrada’ mas é a mais fraquinha do disco. Depois entra a serelepe Fernandinha Takai, linda e simpática como nunca e o quinteto emenda com “Anormal”, “Eu” e “Amendoin”. A partir daí foi só lazer. Tocaram músicas mais antigas como “Gol de quem?” e outra do primeiro CD, que não lembro o nome (aquela do “...A Unimed é que vai pagar”). Uma homenagem aos ‘iniciados’, segundo John.

O primeiro ponto alto do show foi a aparição de um pequeno astronauta (marionete manipulada por Fernanda) flutuando pelo palco e ‘cantando’ a canção “Simplicidade”.

Essa merece um parágrafo exclusivo. Pode parecer meio estranha na primeira audição. Afinal, é uma espécie de moda de viola eletrônica, interpretada por uma voz robótica e com uma letra singela e ingênua. Puro Pato Fu. Foi o momento lúdico-emocionante do show.

O segundo destaque vai para “Uh uh uh, la la la, ié ié!”, cantada com vocal de Michael Jackson dos tempos de Jackson Five. Swing contagiante e do bom, para pular até fraturar o fêmur.

No final, Fernanda confessou ter sido aquele o melhor show da banda em terreno carioca. Afirmação perfeitamente aceitável.

sexta-feira, setembro 16, 2005

"Me explica essa porra, Batman!"


No longínquo ano de 1981, Fernando e Antônio, dois paulistanos amigos de infância (um com 18 e outro com 19 anos) sem nada melhor para fazer, resolveram distrair o tédio da pré-maturidade brincando com um super videocassete (coisa que, na época, não era pra qualquer bico) cheio de recursos ‘ transados’. Com o auxílio de um microfone e de um compacto do Grupo Capote (contendo a música “Feira da Fruta”, para o BG), dublaram um episódio da psicodélica série do Batman de improviso, recheando os diálogos com todo o seu vocabulário de palavrões.

Como era de se esperar, a fita foi o maior sucesso nas festinhas do prédio, nas reuniões de família e com a galera da rua. Emprestaram tanto o VHS, que o dito cujo acabou desaparecendo.

Corta para o ano de 2004. Fernando Pettinati - vendedor de concessionária - descobre na internet os rumores de uma suposta dublagem do Batman que estaria correndo o mundo através da rede. Surpreso, Fernando liga para seu antigo companheiro Antônio Camano - agora corretor de seguros -, e juntos se dão conta de que sua obra-prima é, 24 anos depois, um dos maiores ícones da putaria internética!

Esta é a origem de um dos ‘fenômenos’ recentes da Internet mais hilários de todos os tempos. ‘Batman – Feira da Fruta’, o vídeo, me faz chorar de rir toda vez que o assisto. A dublagem tosca e improvisada, com o clima fundo-de-quintal que a série tinha, faz da peça um verdadeiro tratado da babaquice nacional!

Agora existe até um site oficial da aventura, onde você pode baixar o vídeo na versão integral, o hit ‘Feira da Fruta’ e ler uma entrevista com o Fernando e o Antônio, a dupla dinâmica em questão.

Se você procurar no Emule, também vai achar algumas ‘homenagens’ recentes, feitas por fãs: as continuações ‘Batman 2 – O Ministério da Bigodagem’ e ´Batman 3 – Uma Empreitada Bucaneira’.


Foto: os figuraças que começaram essa palhaçada: Antônio (Robin) e Fernando (Batman)

Publicitando


Lá no post inaugural deste blog, escrevi:

(...) “baseei toda a minha carreira profissional na capacidade que tenho de traduzir idéias em palavras. Mas sempre idéias dos outros.”

Ao reler o texto, percebi que não me expressei bem. O trabalho criativo viabiliza a geração de idéias e conceitos para transmitir uma mensagem. E para isso os publicitários utilizam informações e comandos que vêm numa coisa chamada briefing - que muita gente que trabalha em agência pensa que sabe o que é, mas na verdade não tem a mínima idéia.

Fulaninho chega para a criação, diz que “o cliente quer uma peça clean, com uma chamada bem agressiva” e vai dormir tranqüilo à noite achando que isso é um briefing. Primeira regrinha: é ‘de boca’, não é briefing.

Isso acontece demais em agências menores e até nas de médio porte, mas principalmente nas que focam em mídia e produção. As conseqüências são a banalização da atividade criativa, a adequação do trabalho à ‘imensa sabedoria’ de clientes que os atendimentos não sabem domar, a insatisfação geral.

Nós, redatores, sofremos mais com isso. “Faz aê rapidinho uma frase qualquer! Mas tem que ter as palavras ‘promoção’, ‘imperdível’, ‘preço baixo’ e ‘ Shoshooleebeiçolah’, ok?”. Nem precisa ter cérebro para fazer isso. E depois ainda vem o diretor de arte dizer que a frase tá muito grande, não cabe no layout, e que ‘cortou algumas palavrinhas’ por conta própria...

Resumindo: quando não se tem briefing e nem respeito com o profissional de criação, as idéias já vêm prontas, são processadas com descaso, empurradas com a barriga e acabam virando lixo. Assim como o dinheiro do cliente.

Na foto: um briefing, peça extremamente rara em algumas agências.

Um mamão lava a ostra

Este blog recebeu a digníssima visita do amigo Marcelo Moutinho, jornalista, escritor, crítico de cinema e carioquista até o último fio de cabelo. E ganhou seu primeiro link! Foi justamente no excelente blog do Marcelo, Pentimento, do qual eu nem suspeitava a existência.

Valeu xará, taí a retribuição!

quinta-feira, setembro 15, 2005

Luto no lado oeste


Morreu ontem um dos últimos grandes diretores americanos da ‘era clássica’: Robert Wise, o cara que fechou com chave de diamante a caixa dourada dos musicais hollywoodianos.

Numa época em que os musicais estavam em franca decadência, e a indústria preparava o terreno para a invasão de uma nova geração de cineastas que mudaria a cara do cinemão comercial na década seguinte (Copolla, Lucas, Spielberg e cia.), Robert Wise fez pelo menos dois grandes sucessos: A Noviça Rebelde e West Side Story.

Deste último eu falo com prazer, pois é um dos melhores filmes que já vi na vida. Sou tão aficcionado que coleciono versões da inesquecível trilha sonora. Tenho uma com José Carreras e Kiri Te Kanawa liderando os vocais; outra conduzida pelo pianista Dave Grusin; uma terceira interpretada por Dave Brubeck Quartet; um tributo pop regado a muito R&B, jazz e hip-hop; e a original.

Claro que com canções do Stephen Sondhein e os arranjos do Leonard Bernstein, pelo menos metade da qualidade do filme já estava garantida. Mas a direção criativa de Wise foi o que me fisgou na primeira vez. Os planos, a coreografia, a fotografia, a maneira como os conflitos são apresentados, a abertura inesquecível, os créditos finais pichados nos muros. Tudo é genial.

Não sei ao certo, mas acho que foi a primeira vez que o Hollywood mostrou o lado pobre e esquecido da América numa roupagem clássica de musical, mais acostumada a servir de veículo para o luxo e a alegria.

Somewere you find a place, Robert.

Foto: Natalie Wood, Richard Beymer, o diretor Robert Wise e dois papagaios de pirata ao fundo.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Seus problemas acabaram!


Acaba de ser lançado no mercado um produto revolucionário e muuuuuito pentelho: o Revenge CD.

Trata-se de uma compilação de 19 faixas da mais pura poluição sonora, produzida especialmente para você sacanear aquele seu vizinho filho-de-uma-puta que:


1) Comprou, tocou até furar e cantou junto TODAS as músicas do novo CD da Tati Quebra-Barraco umas 19.657 vezes só nesta semana;

2) Está fazendo aulas de piano em casa e, depois de 5 meses, ainda não saiu do ‘Frére Jaques’; ou

3) Adora assistir a ‘Sessão Descarrego’ da Igreja Universal, nas madrugadas da TV Record, sempre com o volume atochado no máximo.

O ‘kit’ vem também com um lindo e moderno par de tampões de ouvido para preservar sua sanidade durante o uso do produto.

Se liga no hit-parade:

1) Furadeira
2) Festa (200 pessoas)
3) Orgasmo
4) Trem
5) Bateria (tocada por uma criança)
6) Gritos (não humanos)
7) Caminhar (usando saltos altos)
8) Discussão doméstica (violenta)
9) Portas batendo
10) Boliche
11) Cão infeliz
12) Praticando violino
13) Trânsito
14) Caminhão de lixo
15) Recém-nascido (faminto)
16) Telefone tocando
17) Jogo de bola
18) Pombos
19) Aspirador de Pó

É só comprar e mandar ver. A menos que você seja vizinho de algum jogador de futebol/pagodeiro/ator do Globo chegado dos manos do C.V., não há nada a temer. O máximo de aporrinhação que você poderá ter é a polícia batendo na sua porta (nada que R$10 não resolva) e um abaixo-assinado pedindo sua expulsão do prédio.

Toda maldade tem um fundo de verdade

Clique na tira para visualizá-la em formato maior.

Copyright: André Dahmer - www.malvados.com.br

Verdades e mentiras

“O jornalismo é uma profissão cujo objetivo ‘filosófico’ é trazer à tona coisas que as pessoas não sabem. Tem um compromisso com a verdade. Agora, qual o objetivo ‘filosófico’ da publicidade? A mentira. É mentir sobre o sabonete, a maionese, a margarina, o político.”
Millôr Fernandes – Estado de São Paulo – 21/08/05


Não sei. Dizer que o jornalismo tem ‘compromisso com a verdade’ é ignorar manipulações históricas cometidas por grupos de comunicação comprometidos com certos interesses. Mas mesmo assim não dá para generalizar. Se o papo em questão é o ‘objetivo filosófico’, tá limpo.

Agora, quando Seu Millôr pisa no pé da publicidade, a dor reflete aqui no meu dedão esquerdo. O objetivo filosófico da publicidade não é mentir, mas, sim, construir verdades. É diferente.

Veja bem: como seria possível vender um político-produto destacando seus reais objetivos e intenções? Seria uma campanha do tipo “rouba, mas faz”, na certa. E os benefícios do cigarro? “Você vai ganhar um belo de um câncer no pulmão, um bafo desgraçado de caçamba de lixo e uma nhaca de fumaça nos cabelos que não sai nem com criolina. Mas o prazer é indescritível!”.

Não dá! A verdade construída pela publicidade é aquela que o público quer ver, abraçar e chamar de sua. Pode não ser a verdade na qual você acredita. Mas, convenhamos: é uma verdade!

Nosso planeta capitalista é movido por desejos e necessidades. Ambos filhos prediletos da publicidade. E o papel dela é só amamentar, educar, dar uns tabefes e jogar de volta no mundo.

terça-feira, setembro 13, 2005

Quarteto fantástico


Acabo de ler a melhor notícia do mês (até então): a Sony vai lançar em novembro a quinta e a sexta temporadas de Seinfeld em DVD.

É simplesmente o produto pop-televisivo mais perfeito que já fizeram. Os roteiros são inventivos, redondinhos, e alguns episódios foram considerados de certa forma ousados por abordarem na época temas dos quais os produtores das redes de TV americanas fugiam como político brasileiro foge de CPI.

Os quatro personagens não se limitam a estereótipos. Jerry Seinfeld é, na teoria, ele mesmo – um comediante solteirão que é o ‘cérebro’ do grupo, mas que cultiva suas excentricidades. George é um poço de burrice, rejeições e complexos de inferioridade. Elaine é a pára-raio de malucos, esperta e espirituosa. Kramer é a própria definição de liberdade e o ‘Joselito’ da série.

Juntos eles representam todos nós. E nossas neuroses do dia-a-dia, nossas dificuldades de comunicação com o próximo, nossas desastradas relações sociais...

Os episódios levam uma pitada de comédia ‘vaudeville’, com seus encontros e desencontros característicos, provocados quase sempre por mal-entendidos, preconceitos e pelas esquisitices que todo ser humano fiel à espécie carrega.

Seinfeld é um programa quase universal, assim como Os Simpsons. Então, se você (como eu) também odeia essa raça norte-americana-duma-figa, pode ver sem penitência.

segunda-feira, setembro 12, 2005

O ser, o nada e o saco de dormir


Sabe aquele filme que o seu vizinho (ou o seu colega do escritório, ou o taxista, ou a recepcionista da sua dentista) pega na locadora e depois fala pra você passar longe porque dormiu o tempo inteiro, porque “neguinho só fala, fala, fala sem parar” ou ficou com ódio porque deixou de alugar a continuação do “Triplo X”? Esse filme é Huckabees (I Heart Huckabees - 2004).

Não vá na onda dessa gente. Peça já para a moça da locadora reservar o Huckabees e por duas horas veja um filme divertido e que faz pensar (mesmo) na vidinha besta que você leva.

Junte um casal de Detetives Existenciais (Lily Tomlin e Dustin Hoffman, excelentes) que utilizam métodos exóticos e nada ortodoxos, uma agressiva concorrente francesa (Isabelle Huppert), um bombeiro (Mark Wahlberg, provando que é um bom ator) paranóico e preocupado em se auto-conhecer, uma modelete lôraburra (Naomi Watts) que se dá conta que a beleza é um valor subjetivo, um impasse nas negociações entre uma ONG ambientalista (liderada por Jason Schwartzman) que usa a poesia para a conscientização e uma grande rede de lojas de departamentos representada por um alpinista profissional (Jude Law) e você tem um roteiro esperto que fica entre a comédia de costumes e a filosofia cara-de-pau. A participação da cantora neo-country Shania Twain como ela mesma é a cereja no bolo.

O mais legal é que a brincadeira continua na internet, nos sites da agência de detetives Jaffe & Jaffe e da ONG Open-Spaces Coalition. Também não deixe de ver nos extras do DVD o programa de entrevistas existencialistas do casal Jaffe. Vale todo o seu suado dinheirinho.

Huckabees não é nenhuma obra-prima, não vai figurar na lista dos mais-mais de ninguém que você conhece e, admito, pode até ser chato em alguns momentos. Mas é, de longe, o filme mais original do ano.

O nome

DEBUKIZONDETEIBOU era um fanzine de humor que eu fiz para distribuir no ZineMutante, um evento multimídia no CCBB realizado antes do boom da Internet aqui no Brasil. O ano não lembro porque datas não são o meu forte.

O zine até que era legalzinho mas ficou só no número 1 mesmo. Eu tinha até planos para seguir adiante, mas sabe aquela mania de enterrar projetos legais que às vezes me acomete? Então, isso mesmo.

Enfim, tudo isso pra avisar que o nome do blog é provisório. Quando tiver um template decente, prometo rebatizar a criança.

O parto

Agora não tem mais volta. A primeira frase já saiu, falta completar a segunda. Serviço cumprido, a terceira nem parece assim tão difícil. Pronto. E ponto.

A verdade é que, pra mim, iniciar um blog está sendo tão ou mais complicado do que parar de fumar. E olha que eu não fumo.

A idéia surgiu no final de 2003. De lá pra cá tentei matá-la de tudo quanto foi jeito. Sufoquei, pisei em cima e tranquei a filha-da-mãe num canto escuro e imundo do inconsciente.

Escrever é o meu trabalho. Sei fazer muitas outras coisas, é claro, mas baseei toda a minha carreira profissional na capacidade que tenho de traduzir idéias em palavras. Mas sempre idéias dos outros. Por isso essa dificuldade quase patológica em começar um blog próprio.

Mas agora FODEU! Tô aqui para mostrar minhas idéias para quem quiser ver. Vou comentar aqui o que me der na telha, com grande ênfase em assuntos como cinema, publicidade e babaquices em geral.

Boa sorte pra mim.