segunda-feira, março 06, 2006

Eu já sabia!



Num tô falando? Meus dons proféticos só costumam falhar quando tento (toda semana, diga-se de passagem) acertar na Mega Sena. Como vocês podem ler no texto abaixo, de setembro/2005, eu já havia eleito Crash o 'melhor filme do ano'. Conhecendo, no mínimo, a temática dos outros indicados, não foi difícil prever.

O filme dos cauboiolas não tinha chance. Não com essa Academia Republicana de Hollywood. Homossexualismo envolvendo ícones sagrados da cultura rural norte-americana, em pleno Governo Bush... Não ia rolar. No máximo, um Oscar-Cala-a-Boca pro Ang Lee, que foi o que ele acabou levando mesmo.

A 'bola de neve' entre Israel e Palestinos (Munique), o escritor maldito e gay (Capote) e o inimigo do Senador anti-comunista MacCarthy (Boa Noite e Boa Sorte) também não teriam chance. Pra que acender mais a fogueira se a gente pode mijar em cima dela, não é mesmo?

Venceu o filme que critica o racismo dos americanos contra qualquer um que não tenha raízes na terra do MacDonalds. Mas não é polêmico? É sim. O tema não é espinhoso? Claro. Mas o racismo para eles é aquele assunto que é feio, que incomoda, mas que todo mundo fala que não existe, até eu e você. É como mau-hálito ou herpes. É coisa que, quanto mais se fala, se condena ou se aponta, mais sai na urina.


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Almas em rota de colisão

É raro ver um título – no caso, um subtítulo – em português, dado a um filme estrangeiro, que seja adequado e tenha a ver com a temática da obra. O “No Limite” que acompanha o título original “Crash”, é perfeito. Todos os personagens estão no limite de cometer uma besteira. A tragédia é, muitas vezes, iminente, mas raramente se concretiza. Apesar da tensão, sempre presente, todo mundo parece querer a redenção qualquer custo.

“Crash” fala de conflitos raciais, mas num sentido bem amplo. Seria muito bom se as pessoas desenvolvessem uma espécie de visão de raio-x que as permitisse olhar as outras além de suas ‘cascas’. É esse olhar que o diretor e roteirista Paul Higgis (que escreveu “Menina de Ouro”) sugere.

A narrativa costura vários personagens (dois negros ladrões de carros, uma família persa, um chaveiro ‘chicano’, um policial racista e seu parceiro ético, um diretor de TV, uma dondoca esnobe e seu marido promotor, etc) e vai tecendo uma colcha de situações-padrão que identificam os sentimentos racistas e segregadores de forma meio didática. Você até pode pensar que o filme vai levantar a bandeirinha do maniqueísmo. Mas logo essa galeria de etnias, comuns em uma cidade como Los Angeles, mostra que a cor, a raça, a procedência e a classe não servem como credencias da alma.

O roteiro usa a metáfora da colisão de automóveis para lembrar o quanto é fácil se ‘chocar’ com o próximo numa sociedade em que todo mundo está prestes a explodir. O elenco está excepcional, principalmente os desconhecidos. Don Cheadle é um dos grandes atores da atualidade, na minha humilde opinião. E ainda tem Matt Dillon, Tandie Newton, Ryan Phillipe, o rapper Ludacris (ótimo!), Sandra Bullock e Brendan Fraser. A trilha minimalista de Mark Ishan está em ponto de bala.

“Crash” é surpreendente, emocionante e otimista, assim como o filme que encabeça minha listinha ‘top ten’: "Magnólia". Os dois são bem diferentes, mas têm muitos pontos em comum. A escalada dos conflitos; a sensação de que ‘os personagens aprenderam uma lição com o que aconteceu’; a forma como as histórias entram em interseção; e o principal momento ‘magnólico’: o videoclip, no qual uma música de fazer qualquer um chorar (em Magnólia foi ‘Wise Up’ de Aimee Mann; aqui é ‘In The Deep’ de Bird York) toca inteira, coberta por imagens tocantes dos personagens em momento de profunda reflexão.

Depois dessa foi batata. Quando os créditos começaram a rolar, percebi que tinha acabado de ver um dos melhores filmes do ano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fale meu querido... passei mais pra dar um alo... como vaum as coisas??? ainda em agencia??? mande noticias...