segunda-feira, novembro 28, 2005

Corujas


Eu trabalho na Barra da Tijuca. Pra quem não é do Rio, eu defino: é um grande nada, cheio de shoppings, centros empresariais, condomínios cafonas e de arquitetura medonha, habitados por gente esnobe e podre de rica (algumas somente podres). É um lugar que não tem historia, tradição, personalidade e nem sombra do espírito carioca. A playboyzada e a peruada reinam absolutos por lá.

Apesar de tudo isso, o bairro que ostenta uma ridícula estátua da liberdade de fibra de vidro não é de se jogar todo fora. A Barra possui uma extensão absurda de praia e recantos verdes que ainda não foram 100% destruídos pela besta-fera humana. Ainda, né. Porque na velocidade em que pipocam os prédios, não duvido que daqui a 20 anos aquilo se transforme no primeiro grande deserto de pedra brasileiro.

Da minha janela na empresa eu vejo o lado bom da Barra: os morros ainda não apinhados de barracos, as árvores ainda não derrubadas pelas construtoras e os pássaros ainda não abatidos por filhinhos-de-papai, apenas por esporte.


Mas no meio de todo esse caos (que, talvez, esteja apenas dentro da minha cabeça), descobri algo inusitado. Há três semanas, estava passando pelo estacionamento do shopping próximo à empresa onde trabalho quando vi as corujinhas das fotos acima. Elas moram em um buraco cavado na base de um muro. Eram quatro, mas um segurança do shopping disse que uma tinha morrido. Disse também que impediu que um imbecil levasse embora uma das bichinhas, que havia acabado de capturar.

Desde então eu tenho tentado fotografá-las. Não foi fácil. Sempre que eu chegava perto demais (o zoom da minha máquina é fraco), elas corriam em fila indiana para dentro da toca. O engraçado é que a maioria das pessoas passam e nem as percebem ali, observando o movimento com aqueles olhões amarelos, atentos a tudo.

Hoje finalmente consegui chegar bem pertinho. Acho que elas estão mais acostumadas com a presença humana. Por um lado isso é péssimo, pois as torna presas fáceis pra manés como aquele que quase engaiolou uma delas. Quando me aproximei, a que estava no chão abriu o bico e até ameaçou um ataque. Mas acho que percebeu que eu estava lá em missão de paz e relaxou. Infelizmente, tem um tempinho que não vejo mais a terceira coruja. Espero que nada de ruim tenha acontecido com ela.

Assim que conseguir mais fotos, vou publicando aqui.

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