segunda-feira, outubro 10, 2005

Acabou-se o que era doce

Finito. O Festival do Rio já virou lembrança. Infelizmente, vi menos filmes do que havia planejado. Só 10 de uma lista de 16. Mas dos 6 que acabei ignorando, só lamento não ter visto Carreiras do Domingos Oliveira, o nosso Woody Allen. Gosto muito de seus filmes desde que vi Amores num festival passado. O cara filma com uma alegria rara e faz bons filmes com pouca grana, atores de porta de botequim e diálogos inteligentes - o que muita gente não consegue com orçamentos milionários.

Vamos então às resenhas que estavam faltando:


::: Noiva e Preconceito ::: Apesar de parecer, não é produto típico de Bollywood, a poderosa indústria do cinema indiano. É uma adaptação musical de Pride And Prejudice (livro de Jane Austen) produzida pelos britânicos e com foco numa família da paupérrima cidade indiana de Amristar. De acordo com a tradição local, os Bakshi precisam desencalhar suas quatro jovens e belas filhas, arranjando-lhes casamentos. De preferência com noivos abastados que os resgatem da beirada do precipício financeiro. Só que as garotas, da era da internet e da rave, não concordam com essa visão atrasada.

Seguindo à risca o clássico de Austen, entra em cena o Mr. Darcy, americano cheio da grana que bate de frente com a idealista Lalita (Aishwarya Ray, Miss Mundo e bastante parecida com a Juliana Paes). O choque cultural é uma das molas do roteiro, criticando a ignorância dos estrangeiros quanto às tradições e a cultura dos países do terceiro mundo. Apesar do tom meio amadorístico dos números musicais, destaco as canções empolgantes da trilha sonora e as ótimas participações de Nitin Ganatra (como o atrapalhado Mr. Kohli) e Naveen Andrews, da série Lost.


::: Lady Vingança ::: Excelente exercício narrativo de Park Chan-Wook, diretor sul-coreano do cultuado Oldboy (que ainda não vi). Uma mulher recém-saída do xilindró - depois de 13 anos comendo o pão que o Jiraya amassou - põe em prática seu minucioso plano de vingança. Para isso ela conta com a retribuição dos favores que cedeu às suas ex-colegas de cela. O alvo da vingança é o cara que a forçou a confessar o crime que ela não cometeu: o assassinato de um garotinho, seqüestrado por ambos.

O roteiro é engenhoso e reserva uma surpresa que modifica e amplia radicalmente o plano original da protagonista. As imagens de Chan-Wook nem sempre são de fácil digestão. Para absorver bem é preciso ter tomado todas as vacinas contra a crueldade humana disponíveis no mercado. Fácil para quem mora no Rio de Janeiro.

Mesmo assim, ainda me espanto com pessoas que acham engraçadas as cenas mais macabras de um filme como esse. O cara tá lá na tela, prestes a torturar alguém, e o sujeito na platéia engasgando com a pipoca de tanto rir. Banalização da violência? Sublimação voluntária da realidade? Sei que cinema é fundamentalmente entretenimento, mas será que é normal arreganhar as cáries toda vez que uma cena violenta é projetada? Fico com a moral do filme de Chan-Wook: ninguém presta. Inclusive eu e você que está lendo isso agora.


::: Os curtas ::: Este ano os curtas brasileiros passaram antes dos filmes da Premiére Brasil e de alguns estrangeiros. Uma boa iniciativa da organização do Festival. Tive sorte de ter visto bons filmetes, como Eu te darei o céu (divertido encontro entre uma solteirona e um garoto de programa) e Historietas Assombradas (animação metade 3D, metade stop-motion, sobre lendas do folclore brasileiro).

Dos outros não gostei tanto (Desejo, Neguinho e Kika, A Cubana e Manual para atropelar cachorro), mas são bons exemplares de uma nova safra de cineastas com a cabeça lotada de referências e que buscam nelas o seu estilo perdido.


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Ufa! Agora que tudo virou abóbora, o melhor a fazer é arquivar o que restou de energia para o Festival de 2006, tomar vergonha na cara e começar a correr atrás de um emprego...

3 comentários:

Anônimo disse...

O problema de ler seus textos é que fico morrendo de vontade de ver os filmes e sei, que infelizmente, nem todos vão entrar em circuito ou parar nas locadoras.
Beijos!

Anônimo disse...

Curti seu blog.

Principalmente porque vc tbm gosta de cinema, Seinfeld e Agente 86 (pôxa, postei no meu blog a morte dele e muita gente nem sabia quem ele era...)

Certamente voltarei mais vezes!

Bye,

Anônimo disse...

Ahhhh...

Bem que eu vi que vc era um cara legal!!

E com esse olho crítico, só podia ser virginiano.. hehehe