segunda-feira, outubro 24, 2005

Alguém sabe dizer o que é normal?


Você não me conhece. Este é o nome do novo CD do Jay Vaquer, um cara que você não conhece mas deveria conhecer. Eu o conheço desde 2001, quando comprei o primeiro lançamento dele, ‘Nem tão são’. Naquela época o clipe de ‘A miragem’ era altamente requisitado na MTV.

A audição de todo CD que compro passa por 3 fases. A primeira é a da ‘Negação’. É a fase em que eu me insulto e penitencio por ter gastado uma quantia de dinheiro qualquer numa bosta de CD. A segunda, ‘Aceitação’, substitui o choro por profunda reflexão acerca das qualidades do CD em questão. Muitas obras de respeito já rodaram nesta fase. Outras caíram na malha fina de uma sub-fase intermediária, conhecida como ‘Abandono’ (também chamada de ‘Limbo’ ou ‘Hibernação’, depende do CD). Os que passam ilesos ou retornam do ‘Abandono’ seguem direto para a terceira fase: ‘Massificação’. E suas faixas não saem mais do meu CD player nem da minha memória musical. O ‘Nem tão são’ do Jay chegou ao final desse processo com louvor, o que garantiu muitos pontos de vantagem para seus dois trabalhos posteriores.

Os talentos vocais de Jay Vaquer não são sobrenaturais, mas têm mãe. Ele é filho de uma das melhores cantores brasileiras, Jane Duboc. Herdou uma bela voz e sabe utilizá-la corretamente, coisa rara no cenário pop nacional. Não é exagero afirmar que o cara dá um banho federal em todo o elenco das 3 edições do ‘Fama’. No quesito ‘Personalidade’ ele dá uma sova em metade dessa galera que toca no rádio e faz uma média com o Faustão aos domingos. Em ‘Inteligência’, então, nem se fala. Pensei por duas horas antes de escrever este post e só achei meia dúzia que chegassem aos pés dele.

Uma pena os dois primeiros CDs não terem vingado como deveriam. Eram independentes e, apesar dos esforços (ele vendeu o carro pra fazer um clipe), faltou quem pagasse o jabá das FMs. No primeiro, destaco ‘Divã’ (em suas duas versões), ‘Outra paisagem’ e o maneiríssimo cover de ‘Pra começar’ (Marina Lima).

No segundo CD, ‘Vendo a mim mesmo’, Jay inventou de aparecer com um visual meio andrógino que não casou muito com a proposta do disco e deve ter assustado algumas pessoas. Injustiça total, pois o que já era bom havia ficado muito melhor. As letras cada vez mais bem sacadas e a sonoridade muito mais apurada. Assim como o primeiro, é poético sem ser hermético. ‘Pode agradecer’ foi a faixa de trabalho, mas acho que se a ensolarada ‘Por nada e por ninguém’ fosse a escolhida, o resultado poderia ter sido outro.

O novo CD segue a trilha dos anteriores, trazendo pérolas pop/rock de qualidade indiscutível. Mesmo agora numa gravadora major (EMI), Jay parece não estar amarrado às concessões comerciais. O repertório, vejam só, é todo dele. Percebi também que ele deu um tempo nos vocalises (os tchara-dup-dunrum praticados pelo Djavan e seu clone Jorge Vercilo). Não que fossem ruins, muito pelo contrário. Mas o trabalho parece estar mais coeso e pronto pra guerra. ‘Cotidiano de um casal feliz’ é genial e já está tocando bastante por aí. A letra esperta (publicada no fim deste post) remete àqueles novos-ricos da Barra. Gente como a gente, não é mesmo?

Se você está procurando algo novo, taí a dica. Garanto que vai ser uma grata surpresa.

Cotidiano de um casal feliz
(Jay Vaquer)

ele manda em tudo, em todos
curte seu poder
e deixa a esposa em casa
pra brincar no treco
de qualquer traveco
em troca de prazer
vai saber porque

e a esposa anda malhada
fez lipoescultura
e a falta de cultura
nunca foi problema
ela tem dinheiro
pra dar e vender
lê Paulo Coelho e seicho-no-ie
vai saber porque

ele guarda no H.D.
fotos de crianças nuas, pra tirar um lazer
curte ver aquilo quando fica só
ela conta os passos que dá no trajeto
entre a terapia e a boca do pó

e até pensa em adotar alguma criatura,
pode ser uma criança ou um labrador
só depende da raça, depende é da cor
que pintar primeiro
ele faz como ninguém a cara de quem não sabe mentir
pode admitir pra ocupar o vazio da relação
mas com uma condição
não quer dar banho, nem
limpar merda o dia inteiro

eles foram ver o show da Diana Krall
que alguém falou que era genial
gritaram uhuuu do camarote
enchendo a cara de scotch

e eles têm escravos
disfarçados de assalariados
diariamente humilhados
e levantam cedo, se arrumam apressados
têm hora marcada pra falar com Deus

alguém sabe dizer o que é normal?
pode parecer tão natural


::: LEIA TAMBÉM >
Fuzarca, o blog do Jay Vaquer
Entrevista com Jay Vaquer

::: COÇE O BOLSO >
Link para comprar ‘Você não me conhece’, no Submarino

4 comentários:

Anônimo disse...

O cara é bom mesmo! Essa música que você colocou a letra no blog é ótima, sempre aumento o volume quando ouço. E pior é que me identifico com o trecho: "escravos disfarçados de assalariados"...

Bjs!

Anônimo disse...

POXA...
Q BOOOOMMMM
SEJA BEM VINDO AO MUNDIÇA VLW...
E OLHA QUALQEUR DUVIDA A MAIS SOBRE O JAY...CONHECER ELE...E ATEH MEMSU O PESSOAL DO NOSSO BLOG Q EH SUUUUUUPER MANEEERU...EH SOH IR LAH MAIS VEZES E NOS PROKURAR VLW....
TU JAH EH MUNDIÇA DA BOOOOOOOAA!!!

AHHHH E ESTAREMOS TOOODOS LAH NU TEATRO ODISSEIA AKI NO RIO MEEEMSU EIM...
VLW?!?!?!!?
ABRASSS

bRUNO

Anônimo disse...

Renato.. muito bacana o que você escreveu sobre o Jay, muito obrigada, fico muito feliz quando leio algo assim verdadeiro e que vem do coração.
Beijo.

Anônimo disse...

Nossa, isso que vc escreveu ficou deep!! adorei!! Não apenas o NTS passaria por esta sua avaliação... todos os cds do Vaquer são foda! Os clipes dão show a parte. Esse cara é um ARTISTA com letra maiúscula. Quem espera um trabalho limitado vindo do Jay, só tende a surpreenser-se a cada album novo que ele lança!! Mto obrigada pela visita no nosso blog. Nos vemos no show do Rio... que tenho certeza, será ducaralho X)
Beijo
;o***