segunda-feira, outubro 03, 2005

Dom Lázaro é cosa-nostra!


No post anterior, escrevi que a família Falcão queria dominar o mundo (ou melhor, o cinema brasileiro). Só que depois de ter visto Cidade Baixa e Cafundó, percebi que o ator Lázaro Ramos não só já tomou conta desse mundo, como instaurou uma ditadura absolutista.

O cara tá mesmo em todas. Até em A Máquina ele apareceu (talvez pra espionar, conspirar e tomar de assalto o poder dos Falcão). Ontem, inclusive, tava lá ele no Fantástico, flutuando em um dos aviões da NASA (e, quem sabe, aproveitando a ida aos ‘isteites’ pra construir alianças escusas com os ianques).

Deixando o brizolismo de lado, preciso dizer que o negão manda muito bem! Em Cidade Baixa, faz dupla com seu conterrâneo Wagner Moura (outro que impressiona em tudo o que faz). O Filme é a velha história do triângulo amoroso: dois amigos se apaixonam por uma mesma mulher que abala as estruturas de ambos e põe a amizade em xeque. O pano de fundo é o submundo de Salvador. O mais próximo de cartão-postal que vemos na tela é o Elevador Lacerda. De resto só inferninhos, botecos, vielas imundas e barcos sucateados.

No início uma seqüência chocante e, digamos, metafórica: uma briga de galos. Abre parênteses: é uma prática detestável, digna de quem não respeita a vida (como um certo publicitário arrogante e corrupto que todos conhecem), mas que no filme é uma cena extremamente necessária para mostrar que, apesar da natureza pacífica dos personagens, eles podem se ‘estranhar’ quando atiçados por forças externas (a descoberta do amor). E nos créditos o diretor garantiu que ‘nenhum animal se feriu durante as filmagens’. Ponto para ele, que conseguiu filmar uma seqüência bem realista. Fecha parênteses.

Destaco também as cenas do assalto à farmácia e o pega-pra-capar entre os dois amigos. A tensão e a autenticidade são duas coisas que Cidade Baixa dá aos montes para o espectador. Alice Braga está muito bem, mas não sei se por ser boa atriz ou por ter sido ‘contaminada’ pela competência da instituição dramática Lázaro-Wagner e pela boa mão do diretor Sérgio Machado. O que fica mais do que claro na tensa e brilhante seqüência final (que, pra raiva de muitos, é daquelas que não concluem a história de forma tradicional). Impressionante. Pra mim, Cidade Baixa está em alta.

Cafundó é uma fantasia biográfica que conta a história da mistureba religiosa surgida no Brasil, através da trajetória do ex-escravo João de Camargo (que não é mais um dos filhos de Francisco). O filme é honesto em suas intenções e Paulo Betti, dirigindo pela primeira vez (o que fica perceptível em muitos momentos), segura bem a produção, principalmente nas horas em que precisa esconder as evidências de um baixo orçamento.

E não é que o Lázaro também está num curta? Desejo passou antes de Cidade Baixa. Mais pra frente vou comentar todos os curtas que vi no Festival em um post só. Inté.

Um comentário:

Anônimo disse...

O Lázaro tá muito bem no Cafundó. Dá ótima base ao filme, que sem dúvida, guarda certa ousadia ao retratar um personagem que hoje faz parte da umbanda (que apesar de 100% brasileira, sofre e muito pelo desconhecimento e preconceito). Continua arrasando nos textos!
Beijos!