segunda-feira, outubro 03, 2005

Onde a verdade repousa


Acabo de chegar da sessão de Were The Truth Lies, do diretor mezzo-canadense, mezzo-egípcio, Atom Egoyan. Fiquei literalmente sem palavras. O que escrever sobre um filme perfeito?

Suspeitas recaem sobre mim: sou um mega fã do cara. Desde que vi O Doce Amanhã, em 98, e fiquei sentado no cinema com cara de panaca até o final dos créditos, que tal cena não se repetia. Depois vieram “Exótica”, “Felicia’s Journey”, “Ararat”... Nesses não rolou a cara de panaca. Apenas um breve filete de baba bovina caindo do canto da boca.

É difícil explicar o impacto dos seus filmes. Só vendo mesmo pra saber. A narrativa é fragmentada e cada elemento da história é revelado no momento apropriado. Geralmente, um grande segredo ou um pequeno detalhe capaz de mudar o mundo de alguém é mostrado no final, sendo que, cronologicamente, tal segredo ou detalhe pode estar no início da história, ou no meio, ou sei lá onde. Seu Egoyan sabe manipular o tempo e o espaço como poucos. E sabe imprimir na tela a sordidez e a perversão do ser humano como ninguém. Ele é o roteirista que eu quero ser quando crescer.

Dessa vez a história original não é dele – é adaptada do livro homônimo de Rupert Holmes. Uma jovem jornalista (Alison Lohman) tenta entrevistar, em plenos anos 70, uma famosa dupla de apresentadores de TV dos anos 50 (tipo Dean Martin e Jerry Lewis), interpretados por Kevin Bacon e Colin Firth. Contar mais do que isso é estragar o prazer de quem vai assistir. Basta dizer que a trama envolve também um Teleton contra a pólio, um mafioso, muito sexo, drogas, mentiras, um segredo, um crime e apenas uma verdade. Tudo isso brilhantemente embaralhado pelo roteiro primoroso e com a direção magnífica do Atom Egoyan.

Cena lisérgica em destaque: a Alice - do País das Maravilhas - seduzindo a jornalista. O diretor já tinha feito uma referência a histórias infantis em O Doce Amanhã (O Flautista de Hammelin, num contexto incestuoso). Quase baixou um David Lynch na hora!

E termino com uma boa notícia: li n’O Globo que o filme foi comprado para lançamento comercial no Brasil. Só não se sabe se o lançamento vai rolar nessa ou na próxima encarnação. Rezem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Rapaz, eu gosto muito do Egoyam mas saí decepcionado. Ele conta bem a história mas acho a Alison Lohman muito frágil para aquela personagem que deveria sustentar toda a história.

Finalmente um blog que fala sobre os filmes do festival

Abraços